Por mais incrível que possa parecer, um acidente doméstico foi muito útil para mim.
Deixei uma bolsa de água "ex-quente" camuflada dentro de uma gaveta e me esqueci dela. Ela acabou se vingando molhando todos os papéis que eu tinha nessa gaveta. Além de aprender a não querer mais aparentar limpeza de maneira suja, aproveitei para dar uma olhada numa velha agenda, do ano de 2002.
Lembei que no dia 30 de janeiro fui ver o recém lançado Vanila Sky. Descobri que comprei a Trip da Luana Piovani em 14 de fevereiro, que dia 14 de março é o dia da poesia, dentre outras façanhas.
De curioso, passei direto para as anotações gerais. Lá descobri os valores de alguns negócios que fiz no mercado livre. Minha relação inválida de e-mails dos amigos e contatos, depois de 7 anos confirmei que ninguém mantém a mesma conta de e-mail. Por fim, deixei o maior tempo para a agenda de telefones. Ha! A agenda de Telefones!
Cada nome vinha com um filme de lembranças. Cada nome, poucas linhas escritas a mão em um pedaço de papel, carregava para minha memória as vivências que levaram aqueles nomes para aquela agenda. Nesses momentos percebemos que a riqueza da vida está em viver bem os fatos do presente porque no futuro eles correm o risco de ficarem esquecidos em uma gaveta.
Resolvi voltar um pouco na agenda e vi que no dia 24 de março eu havia lido um trecho do apocalipse (18,21): "E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó e lançou-a no mar, dizendo: com igual ímpeto será lançada Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada."
E em seguida a esse trecho havia feito uma anotação "Beleza, beleza, beleza... será o desejo de eternidade? Como é prazerozo admirar a beleza! Ter nela o espelho dos desejos. Beleza artificial é vazia, beleza com alma é o caminho para o paraíso".
Talves eu tenha associado Babilônia a beleza humana. Talves hoje, além disso, eu possa relacionar a imagem de Babilônia a Nova York, Londres, São Paulo, Porto Alegre, ou o interior do interior do interior de um lugar qualquer porque tudo se move, apenas o que vale é o que fizemos no presente, porque é somente essa a herança que deixamos para nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário